terça-feira, 2 de abril de 2019

Humano Ofício II



Mas a manhã não joga ao pião,
nem a brincar se abalança:
o dia corre, a tarde já não tem pressa.

Nuno Júdice, O Mito de Europa, 
(do poema Manhã de Inverno com Sol)



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foto minha


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O humano ofício é chegar à perfeição
à arte!
do afago das cerdas 
que varre o caos da configuração
rectangular
Não se espantem as páginas
no vazio estéril do olhar 
os olhos fogem incontidos para o finito
da noite e do dia da rotação circular
são planos em translação


hajota

14 comentários:

  1. Ai de nós se fossemos perfeitos
    nós mais as palavras
    Abraço

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  2. A pessoa humana não é apenas o que já é. É um ser a caminho, como se estivesse destinado a nascer até ao fim. Por isso a arte não é perfeita. Contém dissonâncias, desarmonia com a realidade. Deve colocar perguntas e apontar caminhos. Assim, as páginas não se espantam "no vazio estéril do olhar", já que escrever é, como disse Maria Zambrano "um ouvir no silêncio, um ver na escuridão. É um encontrar-se inteiro por se ter dado inteiramente".
    Este seu poema, meu Amigo Agostinho é denso, mas gostei da inspiração.
    Um beijo.

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  3. Bem, Amigo Agostinho, se a perfeição é o objectivo,
    um longo e já muito percorrido caminho espera o ser humano,
    pois caminhará sempre, sem chegar ao destino.
    Arte, não tem necessariamente que ser sinónimo de perfeição,
    embora seja perfeita para o seu criador, ou talvez não.

    Como eu gostaria de chegar aqui e escrever somente lindas palavras...
    mas, chego, leio, e os dedos fogem-me, cegos, para as teclas erradas.

    Um beijo Poeta Amigo. :)

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  4. É verdade que meio mundo procura a perfeição, mas não deveríamos nós ser apenas o que somos?
    Gosto da ideia de me tornar cada dia mais e melhor e também gosto de artes várias, nem todas serão perfeitas, mas serão ainda assim, artes :)
    Boa noite

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  5. Quando só há vazio, a poesia morre... Ma, no vazio, no silêncio, há palavras que têm que ser ouvidas...
    Mesmo que não sejam perfeitas...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. O sonho e a utopia que comandam a vida.
    Aquele abraço, bfds

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  7. Essa escavação "no vazio estéril do olhar" em busca da perfeição, da palavra libertadora, donde se apreende a ideia de escrita como trabalho e busca, para que nasça o canto.
    Um belo texto, caro Agostinho!

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  8. 25 de ABRIL sempre
    com olhos no 1º de MAIO

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  9. A sede de infinito... talvez seja aí o cerne da questão... que à partida traça o caos da configuração... que impede de atingir a perfeição...
    As artes, não pretendem atingir a perfeição... apenas entender o mundo sob a óptica de uma forma de expressão... que mostra o universo de cada autor... em si mesmo... sem invadir o mundo dos demais...
    A arte... sabe sempre qual o seu papel no mundo... já o homem... desde a sua criação... ainda anda a questionar-se sobre tal... e porque não entende o mundo... muda-o/destrói-o... sem às vezes,nem em relação a si mesmo... ainda se conseguir entender...
    A arte cativa... já o homem... costuma fazer prisioneiros...
    Mais um daqueles seus momentos poéticos, Agostinho... que nos oferece uma infinidade para reflectir... e configurar, cá por dentro! Gosto!... E muito!... Das palavras... e da foto!!!
    Fantástico trabalho, Agostinho, em ambas as vertentes!...
    Beijinho! Bom fim de semana!
    Ana

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  10. um poema denso e intenso!

    é necessário esgravatar a rocha para lhe olhar os veios
    e aliviar a caminhada do supérfluo para ensaiar o voo,
    bem se sabendo que são cera as asas!

    gostei muito do Poema, caro amigo Agostinho

    abraço, Poeta

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  11. A perfeição... muitos a procuram. Será que alguém a consegue alcançar? Há quem diga que não...
    Contudo, tentá-lo faz parte da condição humana. E talvez nessa luta resida o maior encanto.
    O caos... sempre existiu e continuará a existir.

    APROVEITO PARA DESEJAR UMA DOCE PÁSCOA, ALEGRE E MUITO FELIZ.

    Desejo uma semana feliz
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  12. denso e intenso.

    a perfeição não existe, mas nós teimamos, e nunca lá chegamos.

    :(

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