segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Dias da criação


Naquele tempo os deuses
desceram à Terra infecunda 
para fundar harmonia e beleza
na alma angelical da natureza

e não tinham relógio,
nem precisaram ter.
Dispunham da eternidade,
sem princípio nem fim,
para amar de verdade.

Entregaram-se ao amor
pelas coisas mais comuns.
A água, fosse qual fosse,
dos rios ou do mar toda ela era doce.
Por isso foi amada,

como as árvores virgens,
cada uma com a sua flor,
todas frutificaram
graças ao amor.

Naquele tempo a flor era a flor.
Os deuses não sabiam dos olhos
nem da água que deles brota
nos desertos silentes da dor.

hajota




Painel de azulejos, 1992, Instituto Português de Oncologia do Porto, Julio_Resende_Azulejo_by_Henrique_Matos







13 comentários:

  1. Não tinham relógio e dispunham da eternidade...

    Isso é o sonho!

    Boa semana:)

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  2. Crónica de um tempo mágico, Agostinho.
    Muito bonito.

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  3. ~
    ~ ~ Um poema que coloca uma grande questão filosófica e teológica: como pode um Ser perfeito criar a dor, uma das muitas imperfeições da Criação.

    ~ ~ ~ Um poema singular que homenageia quem sofre. ~ ~ ~

    ~ ~ ~ ~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~ ~ ~ ~

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  4. será que foram os Deuses que criaram a dor, ou seriam os humanos...

    poema belíssimo além de reflexivo .

    :)

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  5. Ás vezes, sem que se diga uma palavra, a chorar por dentro...apenas oferecer conforto à quem sofre....
    Obrigada pela partilha...e pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. Permita que destaque o final da sua bela poesia :

    Os deuses não sabiam dos olhos
    nem da água que deles brota
    nos desertos silentes da dor.


    O painel do Resende em sintonia com a poesia.
    Tudo magnífico, meu caro !

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  7. Que voltem os deuses para nos salvar do que restou ,por aqui ...
    Linda a poesia e o painel.

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  8. Dias em que os deuses se entretinham.

    Pena terem emigrado.

    Deixaram-nos entregues à bicharada.

    Beijinhos

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  9. Agostinho caro amigo,estou lisonjeada
    e envaidecida ao perceber que vc esta
    lendo minha poesia.
    Bjins
    CatiahoAlc,
    .

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  10. Olá, como tem passado?
    Tenho apreciado os seus poemas!
    Um abraço!

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  11. A magia do poema a pegar-se-nos à pele.
    Beijo, Agostinho.

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  12. não sabiam naquele tempo

    e perguntamo-nos se hoje o saberão

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  13. Agostinho,
    Eternidades assim nem aos deuses se vergam.:))
    Lindo.
    Não conhecia este painel de Resende e como tudo o que fez é lindo.
    Boa semana!

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